28 de junho de 2011

O Mecanismo das Tentações

Missa dos Acólitos (20)

Muita são as tentações a que o homem está submetido. Existe, porém, uma que está na raiz de todas elas, que é paradigmática. É aquela que vem descrita no capitulo 3º. do livro do Genesis, que aqui resumo: o homem e a mulher estão no jardim onde foram plantadas todas as árvores e, entre estas, duas especiais: a árvore da vida, que se encontra no centro do Édem e a árvore do conhecimento do bem e do mal que, por sua vez, se encontra em outra parte do jardim.

No sinal da árvore da vida encontramos uma clara indicação de que o homem é chamado a viver unido com o seu criador, fonte perene de sua existência. Com o sinal da árvore do conhecimento do bem e do mal temos, por sua vez, a possibilidade do homem determinar por si mesmo o que é bem e o que é o mal. O tentador, de modo sagaz, não apenas seduz a mulher mais faz irromper no seu coração uma dúvida, uma inquietação: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comais de nenhuma das árvores do jardim?” (Gn 3,1) A mentira é evidente! Tanto é que a mulher imediatamente se dá conta. Mais, no seu ouvido, a falsidade sibilada da serpente surte um perverso efeito, que é aquele de mudar a perspectiva com a qual ela olha o jardim, isto é, a sua posição no mundo. “Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis”. (Gn 3,2-3).

Mais a árvore que estava no meio do jardim não é a árvore da vida? E Deus não havia expressamente ordenado de que não se consumisse o seu fruto? Como se explica que Eva acrescenta a ordem de Deus o fato de que não se deveria tocá-lo? Evidentemente que as palavras da serpente atingiram a sua finalidade: a mulher percebeu que no centro de sua vida tem uma proibição, um limite. Surge, agora, para ela uma alternativa: Deus é a fonte da minha vida ou um déspota ciumento? Alguém de cuja autoridade devo liberar-me? E eu o que sou? Uma criatura amada ou um brinquedo nas mãos de Deus. A tentação que a serpente desperta é a dúvida sobre Deus a partir da consciência dos próprios limites, da própria dependência.

Os limites que tenho como criatura são espaços para que eu faça a experiência da bondade de Deus, da sua paternidade e não um cárcere no qual estou preso e, consequentemente, impedido de usar a própria liberdade. A vida humana, no seu dinamismo biológico, oferece-nos um bom exemplo: pensemos numa criança de mais ou menos três anos – tem tantos limites! Cito alguns: não pode comer sozinha, não sabe vestir-se sozinha, não pode viajar, não pode... esta dependência total ela vive em relação aos seus genitores e nem por isso a condição da criança é uma condenação, mais sim o lugar, o espaço para que ela se sinta amada.

Se faltasse a relação de confiança, de amor com o pai e a mãe imediatamente a dependência da criança seria vivida como um drama. A tentação está ligada à audição, a ausculta[1]. Os padres do deserto ensinavam aos seus discípulos que deviam interrogar os próprios pensamentos: “A cada pensamento que te aparece”, diziam, “tu perguntas: és dos nossos ou vens do inimigo? E não poderás deixar de confessa-los!”

Por fim não é demais lembrar que também Jesus foi tentado a escutar satanás e Ele somente respondeu depois de escutar o Pai. Por isso todo homem que está em Cristo deve rezar dizendo: “E não nos introduzas em tentação, mas livra-nos do Maligno”. (Mt 6,13)

Pe. Flávio

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