7 de setembro de 2011

...UM OLHAR

fotosab 014Passando por muitos lugares a realidade atrai o nosso olhar. O olhar nos possibilita apreender primariamente a realizade que se apresenta. Qualquer viajante que cruzar as terras piauienses também terá um olhar, uma leitura da realidade e segundo seu lugar de origem, vai construir um juízo sobre o Piauí. Por alguns dias pude viajar por cinco municípios piauienses: Teresina, Picos, Santa Cruz do Piauí, Floriano, São Francisco do Piauí e São José do Peixe.

Nestas cidades existem realidades diversas, são muitos cenários que se apresentam, mas se soma ao olhar o escutar. O que se escutam são coisas bonitas e também lamentáveis. A política é a principal dor partilhada e curiosamente, as iniciativas dos representantes políticos são exatamente as que constroem os cenários. Quais são os cenários?

Os cenários se compõem desde cenas modernas como Ponte Estaiada até imagens que se igualam aos países mais pobres do mundo. No entanto, o mais curioso é o relacionamento dos políticos com os seus eleitores, ao menos uma boa representação desta classe. Há um clientelismo, isto é, os políticos se apresentam como provedores das necessidades básicas em virtude da "bondade pessoal", assim, distanciando a prática política do que lhe é próprio: promover o bem comum, propciar à sociedade leis e organizações que garantam o bem estar da maioria e evitar que um particular ocupe ou se privilegie com o que é de direito da maioria. Ora, em um cenário onde famílias de tradição política moram em palacetes e detêm grandes posses, além de direito a boa educação, saúde e muito mais e, ao passo que se encontram pessoas vivendo sem energia elétrica, sem água, isto sem falar de educação e saúde. Há ainda outras situações como escolas paralisadas, hospitais em construções que nunca são concluídas, e ao mesmo tempo, os mais pobres socorridos por programas federais de combate a pobreza, mas também muitas vezes, os mais pobres deixam de ser beneficiados, para se atender a clientes políticos. Esta é uma realidade que causa indignação e a pergunta: por que?

As respostas a interrogação seriam muitas. Vindo de um político pode-se escutar: falta de verbas, de outro talvez: falta de competência administrativa. E o povo o que diz? Os políticos não se preocupam com o povo, só querem saber deles mesmos; há má vontade dos políticos; o povo não sabe votar; aqui tem famílias que acham que mandam em tudo... e assim por diante, configurando-se uma realidade marcante: políticos sempre mais ricos e pobres mais pobres, talvez com motos, com casa, com carro, mas endividados.

Como agente além de olhar também escuta. Passando pelo Nordestão dos Presbíteros, em Teresina, no horário do lanche, escutei um padre criticar as músicas católicas ligadas a uma proposta de crítica social e formação de consciência política. O mesmo dizia: não há mais sentido cantar essas músicas. Quem as queria cantar já chegou ao poder, já estão satisfeitos. Porém, diria eu, alguns chegaram ao poder, mas as nossas comunidades estão repletas de pessoas que trazem às nossas celebrações a busca de esperança e superação de humilhações sofridas por diversos motivos: por que foi buscar a ajuda de um político para comprar um remédio, para pagar uma conta; por que foi a um órgão público e o funcionário, desprovido de educação, o tratou de forma humilhante; porque passou em um concurso público, em um vestibular e parece que está sendo driblado pelos clientes políticos, por enfim, a grande maioria dos membros de nossas comunidades continuam necessitando de libertação e conscientização e no Estado mais católico do país, a maior contibuição da Igreja é a fé, a fé que ilumina a vida e a vida que é iluminada pela fé.

Um olhar nos leva a muitos caminhos, a muitos horizontes, mas, sobretudo, deve nos levar a saber que os programas de transferência de renda já são um avanço, mas não é o ponto de chegada, ainda há muita pobreza, há ainda pouca gente mandando e muitos sendo explorados e alocados como merecedores da "bondade" de alguns políticos. E que o povo possa olhar bem e apostar em políticos que queiram olhar para o nosso Piauí.

Pe. Abimael Francisco do Nascimento, msc

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