Percebemos
que as Sagradas Escrituras abordam sobre Jesus de Nazaré em seu Novo
Testamento, apresentado nos quatro evangelhos, sendo três conhecidos como
sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas, intitulados assim, pois apresentam uma visão
correlacionada entre a pessoa de Jesus, ou seja, por meio deles temos uma
sinopse, uma síntese sobre a vivencia e o percurso de Jesus, desde seu
nascimento, morte e ressurreição.
Já
no evangelho de João temos um modo próprio de perceber sobre Jesus e os
acontecimentos. Notamos que a comunidade joanina é uma comunidade que
desenvolve sua identidade, passando por momentos de dura polemica com a igreja (casa
de reunião) e que se demonstra aberta para os outros grupos, por exemplo, os
samaritanos. Iremos refletir sobre a o sentido da Páscoa abordado pelo
evangelho de João.
Dentre
as festas judaicas, das bodas, pentecostes, tabernáculos, dedicação, temos a
festa da Páscoa como a mais significativa. Por meio dela se cultiva a memória
que identifica Israel como povo de Deus, desde sua libertação como povo escravo
pelos egípcios. Temos nesta festa a inscrição da memória do êxodo, onde Deus
liberta o seu povo. Em Ex 12, 1- 51, encontramos a lei para que a festa seja
cultivada de geração em geração, para que o povo de Israel perpetue a
consciência de que Deus está ao seu lado.
Páscoa
significa “passagem”. A sua origem está presente em duas vertentes, a saber:
primeiramente a dos pastores, que é celebrada com a imolação de um cordeiro, e
em segundo lugar a dos agricultores, que é celebrada com o pão sem fermento.
Inicialmente a Páscoa celebra (Ex 11 – 12), onde temos o episodio em que houve
a noite em que o anjo da morte passou pelo Egito e matou todas as crianças
primogênitas onde a porta da casa não estava com o sinal do sangue do cordeiro.
Com a saída do povo de Israel do Egito, temos um novo significado, onde passou
a ser a festa celebrada pela libertação do povo da escravidão, realizada por
Deus através de seu servo Moisés.
O
evangelho de João nos apresenta noticias de três páscoas, em que ele denomina
páscoa dos “judeus”, onde Jesus revela uma forma de comportamento distinta em
cada uma delas. Essas três páscoas apresentadas, são: primeira páscoa do inicio
da missão; segunda páscoa do ano seguinte; e, a terceira páscoa, em Jerusalém.
Na
primeira Páscoa, do inicio da missão. Encontrada em João 2, 13 -22, onde Jesus
se faz presente na festa da Páscoa, onde demonstra indignação com o modo de
celebração assim com a estrutura montada e com o lugar. A páscoa passa a ser
utilizada pelas autoridades como forma de exploração para uma nova escravidão,
onde há uma exploração dos peregrinos em função da pratica de um ritual. Aqui fica
evidente pelo ato de Jesus ao repelir o comercio no Templo, que existiu uma
adulteração da Páscoa praticada pelas autoridades de seu tempo.
Na
segunda Páscoa, intitulada como Páscoa do ano seguinte, temos Jesus que toma
outra atitude em relação ao ano anterior, ou seja, ele não vai celebrar a
Páscoa em Jerusalém, e a celebra com a multidão às margens do mar da Galileia (Jo
6, 1- 13). Sem templos e sem as exigências estabelecidas pelas autoridades
estabelecidas, Jesus celebra uma nova Páscoa. Aqui encontramos uma partilha de
vida. Esta acontece nas margens do mar da Galileia, onde temos a expressão do
dom da partilha. Em João 6, 5, temos “Levantando os olhos e vendo a grande
multidão que a Ele acorria, disse a Filipe ‘ Onde compraremos pão para que eles
comam?”. Não é que Jesus não tinha consciência do que estava acontecendo, mas o
mesmo chama os discípulos em um método didático e pedagógico para um
compromisso dos discípulos para a responsabilidade para com o povo. Ao
encontrar apenas alguns pães e peixes, notamos que Jesus organiza o povo e ali
acontece o milagre da multiplicação dos pães. Quando existe partilha e a
participação entre as pessoas e Deus, o melhor (milagre) acontece. Aqui
pontuamos o papel da equipe de liturgia, que é de fazer com que aconteça a
celebração da vida (partilha e serviço), da comunidade hodierna.
Por
fim, apresentamos a terceira Páscoa, em Jerusalém, onde Jesus é entregue e
crucificado. Jesus vai para Jerusalém para celebrar a sua própria Páscoa. Há
exatos seis dias antes, Jesus havia celebrado em Betânia, com Marta, Maria e
Lázaro, quando foi com um dia antes ele celebrou a ceia, com os discípulos já
em Jerusalém, onde apresentou uma irruptura no modo de celebrar com a atitude
do lava pés.
Assim,
a Páscoa de Jesus ganha um novo significado, em que celebra-la é entregar a
própria vida em resgate da humanidade. Deixa de ser uma mera lembrança, pois
lembrar não tem poder de fazer história, passando a ser um acontecimento. O
método de Jesus é prepara os discípulos para a Páscoa que Deus quer,
demonstrando o significado da Páscoa em que está na última e definitiva passagem
da morte e do pecado para a vida, e vida em abundância que não tem fim.
Refletir
sobre a Páscoa, nos fornece uma amplitude sobre o conhecimento do cristianismo,
tendo em vista que o Novo Testamento está conectado com o Antigo Testamento. A
páscoa é passagem do velho para o novo, é transformação e esta só pode ser
feita por uma adesão concreta a Jesus de Nazaré.
(Ricardo
de Moura Borges – graduando em Bacharelado em Teologia Católica)