13 de abril de 2021

Reflexões acerca do Salmo 03



                                                                                   
Mas tu, Senhor, és o escudo que me protege;

és a minha glória e me fazes andar de cabeça erguida.

(Salmo 3, 3)

Os salmos falam profundamente a nossa alma, são pontos de reflexões inerentes ao nosso existir. Afinal, quem de nós nunca passou por momentos de felicidade ou de tristeza na vida? Portanto, nos textos dos salmos encontramos conforto para todas as circunstancias vivenciais. Por isso, os judeus e a igreja cristã ora os salmos constantemente, quer sejam em forma de cantos ou de leituras. Esta experiência é muito interessante e passa a ser fundamental quando vamos adentrando na sua leitura.

O salmo 3 expressa um momento de aflição, onde o sujeito está aflito por diversas perseguições dada pela situação de pecado, ou por inimigos opressores que não o deixam realizar o projeto de Deus, exercendo a sua liberdade. Não recorrendo a mãos humanas, o autor recorre a oração ao Deus Onipotente, que tudo vê, tudo sabe e que em sua misericórdia cuida de todos os que o buscam.

A confiança em Deus desperta o sentimento de esperança que já se concretiza quando o mesmo não se abate frente aos problemas que a vida lhe apresenta, pois a certeza em seu coração brota nas palavras “Ao Senhor clamo em alta voz, e do seu santo monte ele me responde (v.4)”. Em muitos momentos pensamos que Deus está muito longe de nossa realidade, ou que se encontra marcado a se apresentar por meio de fórmulas mágicas ou de apresentação de inúmeros sacrifícios, mas o que Ele quer é uma alma penitente, que busque a sua misericórdia.

É na banalidade do nosso existir que Ele está presente, o salmista afirma quando diz: “Eu me deito e durmo, e torno a acordar, porque é o Senhor que me sustém (v.5)”. O autor nos mostra que nada nos pertence, e de que quão grande é o Senhor em nos oferecer o dom da vida, portanto, agradecer é de fundamental importância, tanto pelo deitar como pelo levantar, quanto pela família, pelo sol que nasce, pelos amigos, enfim, por tudo o que nos acontece.

Essa confiança nos motiva a perceber que Deus é presente de tal forma que nos mostra o caminho que devemos seguir. Este caminho nunca é fechado tendo em vista que mesmo tendo errado, ou se distanciado dos planos de Deus por meio do pecado, o ser humano tem a possibilidade de entregar-se constantemente a busca pelos caminhos de Deus.

É o ser humano que vai conseguir por suas próprias forças, aliando-se unicamente aos meios humanos? Confortado o salmista continua: “Não me assustam os milhares que me cercam (v.5)”, pois a sua confiança está em Deus, que dá a possibilidade de enfrentar os problemas de cabeça erguida. E quantas vezes na vida, desanimamos, tendemos a voltar para traz ou pensar em encerrar tudo, pois aos nossos olhos não existe mais saída para os problemas. Há quem diga que o tempo resolve tudo, e não deixamos de concordar com tal proposição, mas o que o salmista nos convida é nos abandonarmos na confiança do Senhor do Tempo, ou seja, buscar a Deus em todos os momentos, agradecer, orar, refletir e se abandonar ao seu amor incondicional.

Esse abandonar nas mãos de Deus requer uma práxis de fundamental importância, a saber a oração. O salmista ora dizendo: “Levanta-te, Senhor! Salva-me, Deus meu! Quebra o queixo de todos os meus inimigos; arrebenta os dentes dos ímpios. (v.6)”. Deus sabe o que se passa com cada um de nós, mas indica o caminho de que é necessário estabelecer uma comunhão com Ele, caso queiramos segui-lo, desta maneira o salmista poderia muito bem se calar, mas faz o contrário, ora e ora com fervor e tremor. A segunda parte do versículo nos assusta, mas demonstra que sua alma está aflita por tantas provações que o mesmo passa, e de que a justiça perfeita não cabe a mão humana, mas suplica ao Senhor que cuide de seus inimigos (aqui pontuamos a existência dos inimigos carnais e espirituais, que trataremos em outra reflexões).

A proximidade do salmista nos ensina que Deus é um Deus próximo que escuta a nossa oração. Ele diz: “Salva-me, Deus meu”, não é o Deus distante que mora em regiões inacessíveis, mas é o Deus de Isaac, Jacó, Moises, ou seja, o vínculo do salmista foi estabelecido por uma comunhão por meio da oração e de suas práticas cotidianas em busca constante ao Senhor.

O final do salmo nos surpreende ao declarar que: “Do Senhor vem o livramento. A tua bênção está sobre o teu povo. (v.8), pois nos mostra que não é por nossas forças, nem pelos meios unicamente humanos que virá um livramento diante dos problemas, mas é Deus que cuida do seu povo, e da vida de cada um de nós.

A lição do salmista é importantíssima pois apresenta o meio para buscarmos a Deus, que é tão simples, mas que em muitos momentos nos distanciamos, ou seja, a oração, que deve constante. Como salientamos no inicio do texto, não é à toa que os salmos foram escritos há muitos séculos atrás, mas que se fazem presente na vida da Igreja, não como meros textos que são repetidos nas orações litúrgicas, mas que na liturgia e nas reflexões pessoais encontramos um meio para atingir o encontro pessoal com o Criador.

Assim, finalizamos essa breve reflexão acerca do salmo três com o convite a lermos os salmos, com a mesma intensidade em que saboreamos um bom fruto. Como é bom degustar um saboroso fruto, assim como é deleitoso percebemos o quanto os salmos se fazem presentes nos apontando uma comunhão com Deus em nosso existir.

 

(Ricardo de Moura Borges – graduando em bacharelado em Teologia Católica)

 

 

9 de abril de 2021

A Ressurreição de Jesus – Breve reflexão

 

A morte é um momento em que incomoda a nossa existência, nos trazendo angustia, medo e reflexão. Os discípulos de Jesus ao verem a crucificação do mestre, ficaram cheios de medo, pavor, e muito triste. Mas eis que Cristo vence a morte, e nos convida para uma vida nova. Neste breve texto iremos refletir sobre dois pontos: primeiro sobre quem é Cristo em nossa vida e como Ele nos traz o anúncio de uma vida nova, que vence a barreira da morte; em um segundo momento nos indagamos quem são as pessoas de nossas vidas que nos trazem ressurreição, ou seja, quem são as pessoas que agradecemos constantemente pela sua existência, por serem portas anunciadoras do Cristo Ressuscitado em nossas vidas.

 Os evangelhos nos apresentam a cena da Ressurreição como um momento único, impactante e que reacende a esperança dos discípulos. A igreja celebra a Paixão, morte e ressurreição do Senhor, e nos convida a reacendermos as nossas motivações internas e externas, tendo em vista que Cristo após a Ressurreição nos garantiu que enviaria o Espírito Paraclito, o advogado intercessor. Por isso, que celebrar a Páscoa de Jesus se dá num período de cinquenta dias, que é a quantidade de dias em que houve o Pentecostes, ou seja, a descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos no cenáculo. Aqui abrimos um parênteses, onde em nossa crisma recebemos os dons do Espirito Santo de Deus.

 O nosso processo de catequese é continuo onde Jesus se faz presente cada dia em nossas vidas, a partir de nossos momentos mais felizes, como nos momentos angustiantes de nosso existir. A pergunta sobre quem é Jesus em nossas vidas, é central nos evangelhos. O evangelho de Marcos, pontua essa questão como a central, e assim atualizamos para a nossa vida hodierna, onde diante da vida, colocamos Jesus como centro e fonte de nosso existir. Na instituição Igreja, recebemos a catequese, participamos das celebrações e recebemos os sacramentos, onde o fator oração pessoal e o verdadeiro encontro com Jesus se faz de fundamental importância. É este convite que Cristo nos faz em cada passagem do Evangelho, convidando-nos a Segui-lo.

 Muitas das vezes, confundimos o seguimento, como se fosse apenas algo separado do nosso trabalho, família, amigos e outros meios sociais, separando-se de tudo e de todos e morando em um mosteiro isolado. Mas a missão em que Cristo nos convida é justamente de procura-lo constantemente, em todos os meios sociais em que vivemos. Salientamos que a vocação de separa-se e viver uma vida de inteira entrega é louvável e fundamental, tendo em vista que temos a vocação sacerdotal, ou de irmãos consagrados ao Senhor, mas inteiramos que em nossas humildes comunidades e espaços sociais diversos, somos convidados a sermos sal e luz do mundo.

 Neste domingo de Páscoa, uma das reflexões que sobreveio a mente foi: quem são as pessoas que são sinal de ressurreição de Cristo em nossas vidas? Ora, é uma pergunta muito profunda, tendo em vista que Jesus não é alguém distante de nossa realidade, mas que faz parte de nosso existir. Somos imbuídos de fé, esperança e desejo de experimentar as glórias da ressurreição. Sendo pecadores, temos medo, angustias, aflições, nos alegramos ou nos felicitamos com coisas supérfluas, mas no fim das contas, temos um desejo que paira em nosso interior que se dobra ao desconhecido, eis a busca pelo Senhor, e pelo sentido da vida.

 Deus ao resgatar o ser humano do pecado, entregou seu filho único para nos resgatar do pecado. Nascemos com o pecado original dado por Adão, e Cristo é o novo Adão que assumiu a condição humana e se igualou a nós, menos no pecado. Portanto, Deus se fez homem, morou em uma região geográfica, teve uma família, amigos, trabalho e assumiu a missão de pregar a boa nova e nos convidar ao Reino de Deus. Assim refletimos, quem são aqueles que ao nosso redor nos causam momentos de ressurreição frente a morte (arrependimento de nossos pecados). Poderíamos citar inúmeras pessoas que são instrumentos de Deus e nos motivam fervorosamente para assumir a Cruz de Cristo e não parar apenas no calvário, mas buscar uma vida nova em Cristo.

 Desta maneira salientamos o quanto em nossa fragilidade, temos o amor de Deus que se faz presente em nosso breve existir, e que o convite a mudança e a passagem da morte para a ressurreição é constante em nossa vida. Não somos nem só erros como acertos, mas Cristo nos chama constantemente a fazermos um encontro pessoal com Ele, a fim de agradecermos constantemente o seu amor por nós.

Sejamos gratos a todos aqueles que se apresentam em nossa vida como sinal de Ressurreição em nossas vidas, e oremos uns pelos outros, com a finalidade de encontramos o Cristo Ressuscitado no outro que se faz presente em nosso dia a dia.

 

(Ricardo de Moura Borges – Graduando em Bacharelado em Teologia Católica)

 

1 de abril de 2021

Semana Santa em tempos de Pandemia


A Semana Santa corresponde a um período de oração, reflexão e meditação sobre a flagelação, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Um período intenso, onde a comunidade volta-se com fervor para os momentos de celebração na igreja, sendo convidada a um profundo encontro com Jesus Cristo. Mas como vivenciar este momento em tempos de pandemia, onde o isolamento social é necessário para evitarmos a disseminação do vírus. Em tempos atípicos, surgem os desafios ou momentos críticos, e assim, partimos de novas possibilidades. 

Sabemos que o mundo virtual não substitui o mundo real, ou seja, que as celebrações via os meios sociais não são para substituir de vez, mas que neste contexto, percebemos o quanto é eficaz a ação evangelizadora pelos meios de comunicação. Quando sintonizamos em nossas casas, entramos em comunhão com toda a igreja que se faz presente no meio de todos. A oração pessoal entra em contato com a oração comunitária de toda a Santa Igreja. 

Celebrar a paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, é perceber a cada momento de nosso breve existir que estamos de passagem, e que pela graça divina tornamo-nos participantes do convite de Jesus. Reconhecemos que somos frágeis, pecadores, e que Deus nos acolhe por sua Justiça e Misericórdia. Justiça, pois ele corrige e direciona aqueles que o buscam; Misericórdia, porque não somos merecedores de sua graça e amor, mas em sua eterna bondade, Deus entregou seu Filho amado em remissão de nossos pecados. 

Contemplar a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo é perceber o quanto Deus nos ama, pois ao se fazer homem, entregou-se a humanidade, e sem pecado, foi julgado, pisoteado, chicoteado, por amor a cada um de nós. Jesus entre em oração a tal ponto que em seu suor sai sangue. Os discípulos abandonaram a Jesus no momento de sua entrega, em um julgamento que foi realizado fora dos padrões normais da época, pois era de madrugada. Pedro o negou três vezes, Judas não aguentou a sua consciência e suicidou-se.

Quando lemos as passagens do evangelho que trazem esses últimos momentos de Jesus, percebemos o quanto Deus ama a humanidade, e o quanto devemos busca-lo, dia após dia. O ato de buscar não quer dizer que não somos pecadores, mas que reconhecemos nossas fragilidades, e quantas das vezes nos julgamos fortes e invictos mas na verdade, passamos a ser flageladores de Jesus. A palavra se atualiza em nossas vidas, nos transforma a cada momento. 

Em momentos de pandemia, percebemos o sofrimento de inúmeras pessoas que perderam seus familiares. Os números de mortes crescem cada dia mais. Um vírus que devastou milhares de pessoas. Sonhos destruídos, famílias desamparadas, medo e pavor rondando a sociedade. Louvamos  a Deus pelo avanço cientifico que identificou a cura, por meio da vacina, mas que anda a passos lentos em sua distribuição.

É um momento histórico de nosso existir que nos leva a inúmeras reflexões existenciais, contudo o que nos fortalece é a nossa fé em perceber que Cristo passou pela paixão e morte de cruz, uma das mortes mais humilhantes, onde os romanos designavam a morte de cruz aqueles que praticavam os piores delitos.

Infelizmente, durante muitos anos verificamos que as igrejas lotavam durante as vias sacras na Semana Santa, mas que no dia em que Cristo vence a morte, ou seja, na Ressurreição, onde é o ponto ápice a Igreja em muitas das vezes permanecia com poucas pessoas. Se a nossa esperança e fé estiver apenas na morte de Cristo a nossa fé é vazia. Mas se acreditamos que há uma ressurreição dos mortos, celebramos com alegria e amor, pois percebemos que esta vida em que estamos inseridos é apenas uma passagem, onde nosso objetivo como cristãos é louvar, honrar e adorar a Deus, com temor e com tremor. 

Os meios digitais nos auxiliam neste momento, onde podemos assistir as celebrações, destas criamos oportunidades para aprofundarmos o encontro pessoal com Jesus, por meio da oração, do jejum e da penitência, confiantes que podemos com Cristo Jesus, ressuscitar para uma vida nova.

 Ricardo de Moura Borges – Graduando em Bacharelado em Teologia Católica.

 

22 de março de 2021

Reflexões sobre o Salmo 2

 


"Felizes, entretanto, todos os que nele confiam.”

(Salmo 2, 11b)

 

Onde está a nossa confiança? Em quem determinamos o centro de nossa vida? A modernidade estabeleceu o antropocentrismo, ou seja, o homem como o centro do universo que pode dar resposta a todas as coisas, sendo este capaz de proporcionar a felicidade a partir do avanço da tecnologia e da ciência. Agora o homem, sendo dono de si, pode atingir os seus objetivos. Desta maneira pode-se atribuir que a vitória vem unicamente pelo ser humano, descartando a possibilidade de intervenção da divindade. O primeiro equivoco é de não reconhecermos que recebemos a Graça da sabedoria e da inteligência e o segundo de que o antropocentrismo inverte o sentido, onde é Deus o criador e não o homem que é a criatura. 

Permeados por objetivos, sonhos, perspectivas, muitas das vezes esquecemos de perguntar a nós mesmos o propósito de nosso breve existir.

O salmo 2 coloca em evidencia o ser humano que desvinculado da presença divina procura os seus propósitos em seu egoísmo, acreditando que pode ser dono de todas as coisas, a tal ponto de desafiar Deus onipotente. Deus porém ao ser onisciente manifesta o seu poder e a sua sabedoria, demonstrando que a verdadeira felicidade não está necessariamente em obter riquezas, fama, glória, mas em perceber o que Ele quer de nossas vidas. Mas como saber o que Deus quer de nós?

Um dos caminhos certeiros para chegar a uma resposta plausível é a oração. Não é por acaso que os salmos são orações. Jesus na Santa Ceia, após a refeição rezou os salmos com seus discípulos. A igreja recomenda constantemente a oração dos salmos. Eles são portas para o encontro com Deus. Recitar o salmo para entrar em contanto com uma oração pessoal com Deus e assim perceber que o nosso breve existir tem um proposito que é louvar e agradecer em todos os momentos da vida.

Os infortúnios e momentos felizes e de glória sempre irão existir, contudo a percepção de que a felicidade pode ser alcançada quando verdadeiramente em um processo continuo, diário, reflexivo se atinge quando confiamos, nos abrimos, ao verdadeiro amor de Deus. O salmo, termina com uma orientação: “Servi o Senhor com respeito e exultai em sua presença; prestai homenagem com tremor [...].

As Sagradas Escrituras são fonte de luz que se renovam a cada momento de nossa vida, demonstrando a presença de Deus em nosso caminhar. Desta forma, agradeçamos o nosso existir e louvemos a Deus que tudo sabe e que nos orienta para sermos vossos discípulos e missionários.


(Ricardo de Moura Borges – Graduando em Bacharelado em Teologia Católica)



2 de fevereiro de 2021

Reflexões sobre os Salmos



Salmo 1: os dois caminhos

“Seu prazer está na lei de Javé, e medita sua lei, dia e noite. Ele é como árvore plantada junto d’água corrente: dá fruto no tempo devido, e suas folhas nunca murcham. Tudo o que ele faz é bem sucedido.”

                                                                                           (Salmo 1, 2-3)

 

Em nosso existir nos deparamos como inúmeras situações que nos fazem repensar os caminhos. Neste salmo encontramos uma orientação, onde Deus mostra que é necessário seguir o caminho dos justos, ou seja, meditar a palavra de Deus dia e noite, sempre buscando-O com toda intensidade de coração. Mas somos falhos, pecadores, caímos constantemente no pecado, portanto, como seguir os trilhos dos caminhos que levam a justiça de Deus?

Diante da colocação de que existe o justo e o injusto, é considerável que na grande maioria das vezes, nos colocamos como justos, em termos as melhores opções e formas de trilhar o nosso breve existir. E ai, quando nos deparamos com os ensinamentos da Sagrada Escritura, Tradição e Magistério, percebemos que em muitos momentos estávamos em caminhos que não era necessariamente o correto. Reconhecer que somos injustos, pecadores e falhos não nos limitam do amor de Deus, mas nos aproximam da realidade do plano de salvação, desde que é claro, busquemos o caminho da justiça.

Este salmo apresenta o caminho tortuoso do injusto que está fadado ao cotidiano trivial em sentar-se na roda dos zombadores, em fixar-se apenas no banal da existência, deixando Deus como segunda opção. Os dois caminhos nos levam a consequências. Se optamos pelo caminho de Deus devemos dedicarmos de coração, alma, vontade e integridade a busca constante, mas isso não é garantia de que não iremos cair de novo. O importante é a perseverança e confiar não em nossas forças, mas sentir e perceber que existe um Deus que nos dá a graça de busca-lo constantemente.

Um certo sacerdote uma vez disse: “ os salmos são orações que devem ser saboreadas, assim, como saboreamos um fruto”. Saborear não é colocar na boca e engolir o fruto com pressa, mas sentir o doce, o amargo, a textura, é sentir o gosto intenso se espalhando em nosso paladar. Desta maneira, um bom caminho é meditar, contemplar, orar, sentir a oração pessoal, intima com Deus por meio dos salmos. Estes são portas de libertação, de confraternização, de alegria e jubilo ao encontrarmos a presença de Deus em nosso existir.

Esta meditação não deve ser de forma alguma uma obrigação, uma imposição de ler o salmo diariamente, mas um habito que vai se tornando presente em nosso cotidiano a partir da tomada de consciência de que o ser humano busca a Deus e este lhe dá as condições necessárias para louva-Lo. Agradecer as pequenas coisas que acontecem no nosso dia-a-dia, sentir e saborear essa percepção já nos ajuda a perceber o milagre que Deus realiza em cada um de nós.

Passamos assim da situação de um caminho levado pelas condições que nos encontrávamos para o caminho proposto por Deus àqueles que buscam a justiça divina. Esse hábito é difícil de ser encontrado?

Algumas dicas são muito importantes: a) oração constante; b) certeza de que a força que vem para uma mudança não vem de nós pois é Deus que dá a graça, mas devemos procurar constantemente; c) leitura das Sagradas Escrituras ( hábito cotidiano); d) abertura para uma reflexão consciente de que cremos no Deus do Impossível que tudo pode transformar.

Desta forma, entendemos que a Sagrada Escritura se faz presente em nossa vida, quando buscamos, meditamos, saboreamos as suas palavras e buscamos entendimento constante, preenchendo esse vazio que há em nosso interior. O salmo aponta que existem aqueles que preenchem com caminhos distantes de Deus, e outros que preenchem meditando dia e noite a sua lei, sendo que o fruto devido é dado de acordo com a produção da árvore. Então, algumas questões são interessantes: que tipo de árvores somos,em qual terra estamos, é possível mudança?

Cremos que o Deus do impossível jamais abandonou aqueles que o buscam de coração sincero, portanto, o caminho está aberto para todos os que o buscam, sendo que a graça acontecendo dia após dia. Como disse São Francisco de Assis: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”.


  ( Ricardo de Moura Borges – graduando em bacharelado em Teologia – UNINTER )