Para os cristãos católicos a Semana Santa é um período onde contemplamos de forma mais intensa a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo Jesus. É o momento em que o cristão é convidado a fazer uma reflexão existencial tendo como centro o amor de Deus que entregou seu Filho único para romper com as barreiras do pecado, possibilitando ao ser humano o acesso à ressurreição dos mortos.
Esta ressurreição dos mortos é marcada por um processo de transformação já em vida. Podemos dizer que ressuscitamos quando nos convertemos, quando amadurecemos, quando nos abrimos de forma mais significativa ao projeto e ao amor de Deus para conosco.
Por mais que seja uma experiência coletiva, onde participamos das vias sacras, missas, procissões, notamos que é um convite individual à conversão. É um momento de encontro pessoal com Jesus, onde podemos contemplar todas as nossas dimensões, quer sejam intelectual, humano afetiva, social, com a finalidade de contemplarmos o mistério de amor sublime. Vemos Jesus humano que sofreu as dores, os suplícios, a flagelação, ou seja, em tudo assumiu a humanidade, menos o pecado. É Deus que se faz ser humano e se aproxima de maneira real em nossas subjetividades. Em outras palavras, podemos dizer que cada um de nós a partir de nossas experiências sociais e culturais temos um encontro particularizado com o Cristo. Contudo, Ele nos arrebata para o encontro com o mistério de amor e ressurreição.
O sujeito é convidado a sair de seu egoísmo, de sua zona de
conforto, refletindo sobre suas ações,
abrindo o coração, demonstrando suas misérias ao Pai, com a finalidade de
Encontrá-lo, e sentir seu abraço, afago e amor, assim como o jovem rico que
gastando tudo, volta a casa do pai arrependido. Este estado de abertura, de
conversão sincera e profunda é um processo, onde este período da Semana Santa
motiva a uma reflexão mais acentuada sobre nossas atitudes. Deus nos convida a
santidade, e esta está ao alcance por meio da graça de Deus, do encontro com o
outro, da conversão de nossas misérias, da busca constante pelo Deus que se fez
carne e habitou entre nós.
As tradições externas, os mandamentos da Igreja ganham
sentido a partir do momento em que o cristão sai do mundo das aparências e
busca viver a essência do cristianismo. Esta essência é o encontro com o Deus
libertador, que nos liberta das estruturas de pecado, que nos acolhe, que vê
nossas misérias, age como um pai que aplica a justiça e não nos abandona,
conduzindo-nos no caminho da salvação eterna.
Essa vivência na Igreja que é dada por uma uma externalização
( encontros, procissões, organização das missas, via sacras, dentre outros) se
faz necessária desde que seja provida de sentido, significado, levando o
cristão a um encontro profundo com Jesus e consigo mesmo, e com o outro. Quando
é desprovida de sentido, passa a ser um rito pelo rito, um costume pelo simples
fato de ter virado uma tradição, ou seja, é externo, é aparência, não atingiu a
essência. Mas é preciso reforçar que Deus perscruta o coração humano, e que o
convite do Deus amor é a realização de seus mandamentos, ou seja, quando essas
práticas externas ganham significado, sentido, elas transcendem, ou seja, o
cristão atinge a essência, olha a situação por uma nova perspectiva.
É o romper com o homem velho, em busca do homem novo que não
é dado pelas forças humanas, mas pela graça de Cristo que habita em nós. Esta
graça se dá pela abertura do coração humano com o desejo de caminhar
firmemente, mesmo sabendo de suas fragilidades, medos, inseguranças e
incertezas. Pois, o ponto firme, a coragem, as certezas e seguranças provém da
ação de Deus no agir humano, ou seja, não depende unicamente de forças humanas,
mas é o abir-se do homem para o amor de Deus.
A prática do jejum, oração, abstenção de carne nos dias
determinados tornam-se vivos e vivificados pois deixam de ser práticas
externas, mas internalizadas com um propósito maior: o amor. Este é o sentido
do ensinamento de Cristo, o amor que vence o ódio, as trevas, a morte, e que
plenifica o ser humano levando-o para um novo estado de vida.
Em uma sociedade marcada por tantos desafios, verificamos que
o ensinamento de Cristo se atualiza e se faz necessário. Um Cristo que liberta
e não aprisiona, que é justo, juíz e misericordioso, que é o Caminho, a Verdade
e a Vida.
Que possamos vivenciar esta Semana Santa de forma a
refletirmos sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, refletindo sobre a
nossa vida pessoal e comunitária, entendendo que a ação de Deus se dá de forma
gradativa em nossa vida, compreendendo que o Deus que nos chama a sermos santos,
nos dá as ferramentas necessárias, nos mostra o caminho e que este só pode ser
trilhado por nós mesmos.
Que não estamos sós, que mesmo a cruz sendo pesada, que
caiamos várias vezes, o Cristo está a nos amar, orientar e ajudar, que mesmo
diante das quedas provocadas por nossas fraquezas e debilidades, o convite ao
amor divino é sempre renovado. Que a Igreja que é santa, pois Cristo é a cabeça
da Igreja, mas também pecadora, pois é feita de homens, é conduzida por Cristo
e que o nosso breve existir está marcado pelo mistério da Paixão, Morte e
Ressurreição.
Ricardo de Moura Borges - Graduado em Bacharelado em
Teologia Católica pelo Centro Universitário Internacional - UNINTER (2024)